Os impactos do POPH na sociedade portuguesa foram tema de entrevista na revista Pública.
O Programa Operacional de Potencial Humano já beneficiou dois milhões de pessoas. O gestor do POPH acredita que Portugal mudou de atitude em relação à formação, e a crise, diz, só irá reforçar essa mudança.
P: Anunciaram recentemente que, com 30 por cento de execução do POPH, Portugal é um dos países com melhor nível de execução no âmbito do Fundo Social Europeu. O que explica isto?
R.F.: Duas razões. Uma tem que ver com as necessidades do país: é um país ávido de financiamento para a qualificação. E outra razão tem que ver com uma mudança cultural a que assistimos, que passa por olharmos cada vez mais para a qualificação como há uns anos se olhava para o emprego estável — é uma ambição social.
P: Estes programas de qualificação têm muito impacto nas estatísticas, mas estará realmente a mudar a forma como os portugueses encaram a formação?
R.F.: Há claramente uma mudança de paradigma cultural relativamente à importância da formação. Com uma diferença: com o apoio que o POPH tem dado, a formação agora conta mais.
Porquê? Porque é certificada. E o que acontece cada vez mais agora, por exemplo através das formações modulares certificadas, é que cada um, de acordo com o ritmo da sua vida, vai construindo percursos como se fossem peças de Lego. Assim, constrói duplas certificações: escolares e profissionais.
P: A crise em Portugal não irá pôr em risco estas mudanças de atitude quanto à formação?
R.F.:As pessoas têm formação mas não têm oportunidades no mercado de trabalho. A crise só veio reforçar a relevância estratégica do POPH. Uma boa parte da nossa crise deve-se à fragilidade dos nossos factores de competitividade.
E qual é a nossa fragilidade número um? O nosso potencial humano. Em termos comparativos, tem menor robustez do que em outros países e sociedades. Eu diria que a crise vem criar uma oportunidade colectiva. Há uma libertação de forças, de disponibilidades, para entrarmos em processos de formação em massa.
A minha esperança — e a minha ambição — é que as pessoas que entram nesses processos sejam desempregadas ou pessoas com níveis de formação mais baixos e que aproveitem esta crise para saírem dela mais fortes. Nós temos
no programa oportunidades para muita gente dar a volta à sua vida.
P: A crise não vai afectar o Programa Operacional de Potencial Humano para os próximos anos? Vai mudar alguma coisa?
R.F.: Nós já mudámos o que tínhamos a mudar. Introduzimos duas novas medidas para apoiar processos relacionados com a crise: apoio ao lay-off das empresas e apoio a programas ocupacionais para desempregados. Alargámos o âmbito das aprovações de cursos de formação de adultos para justamente recolher mais gente para processos de qualificação. E também alargámos a comparticipação nacional no investimento para os equipamentos sociais, conseguindo financiar com 140 milhões de euros perto de 380 respostas sociais, criando nove mil e tal vagas para idosos e deficientes.
P: Com 30 por cento de execução do projecto completos já é possível ver os frutos deste investimento. Quer dar algum exemplo de alguma história que o tenha marcado?
R.F.: Lembro-me do caso de uma jovem que trabalhava desde os 16 anos e que completou com a nossa ajuda um curso de hotelaria. É agora directora de um hotel, tem 30 anos. É um exemplo de sucesso extraordinário. Há um caso que me impressionou muito: um jovem surdo-mudo, dos mais pobres da sua terra, uma terra de vinhos, só ajudava praticamente na lavoura, e foi chamado para uma formação para a inclusão. Quando o visitei, estava numa cozinha com outros jovens, todos com deficiências ligeiras, a fazer bola de carne. Fiquei impressionadíssimo porque aquilo era uma orquestra a funcionar e havia um líder que não falava, porque era surdo-mudo, mal se mexia, e punha aquilo tudo a funcionar só com os olhos. Ele era um líder nato. Muitas vezes não é só o desenlace da história que conta, mas o enredo e nesse enredo há um engrandecimento humano que é a grande chave da formação.
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