Se considerarmos a felicidade como um percurso de vida gratificante, tendo em conta os descontínuos inerentes, podemos perceber que esta não tem de ser uma meta inalcançável, mas poderá ser consequência da forma como encaramos a nossa realidade e as expectativas que criamos.
Apreciar aquilo que de positivo nos acontece - um sorriso, um telefonema, uma conversa agradável, uma paisagem, uma música... - é um exercício diário que nos pode trazer maior bem-estar. Mesmo em momentos difíceis, temos maior confiança quando nos lembramos dos desafios já ultrapassados, trazendo à consciência as nossas competências para lidar com as diferentes situações, mais ou menos exigentes.
Concebendo as três dimensões da felicidade identificadas por Seligman (2002), director do Centro de Psicologia Positiva, encontramos as emoções positivas, o envolvimento e o sentido para a vida. Assim, ser feliz pode passar por experimentar emoções positivas - sejam elas o prazer do momento presente, o orgulho e contentamento pelas experiências vividas e/ou a esperança e optimismo face ao futuro - o estar envolvido em tudo o que faz nos seus dias (no trabalho, com a sua família ou nas actividades de lazer); bem como encontrar algo que dê sentido à vida - através da família, de uma filosofia de vida, uma religião, uma ideologia política, uma comunidade que o faça mover-se e sentir que dá o seu melhor contributo.
Ao criarmos rotinas que dão sentido aos nossos dias, que nos trazem emoções positivas (como a alegria, o amor, o contentamento, a serenidade) e estarmos envolvidos nas actividades que fazemos, estamos a aumentar o nosso bem-estar, mas também a apostar na prevenção, já que estaremos mais apetrechados para lidar com todos os desafios que surgirem.
Num estudo realizado por Barbara Frederickson (2003), verificou-se que efectivamente as emoções positivas alargam horizontes e potenciam a capacidade para a resolução de problemas, ajudando os indivíduos a encontrarem recursos pessoais.
Ter uma atitude optimista ajuda-nos assim, em termos pessoais mas também profissionais, a acreditar e a desenvolver a capacidade de sonhar, criando uma visão que vai além dos obstáculos. Permite-nos ganhar perspectiva sobre a realidade e considerar os obstáculos como desafios, transformando as dificuldades em potencialidades de crescimento e auto-conhecimento. Para uma perspectiva optimista perante o futuro, será importante reconhecermos as nossas capacidades já demonstradas no passado e valorizarmos o que temos no presente (as relações afectivas familiares e de amizade, o trabalho que temos, a casa, a vizinhança, etc), pois é importante acreditarmos em nós como construtores da nossa realidade.
Se é verdade que a realidade poderá trazer situações muito adversas, o modo como a encaramos está directamente relacionado como a forma como nos percebemos na vida. É importante lembrarmo-nos que somos agentes activos das nossas vidas e que podemos sempre procurar melhorar a nossa realidade.
Adaptar as expectativas que temos à nossa realidade é ainda fundamental neste percurso. Se sonhar potencia um maior bem-estar, desconstruir esse sonho em pequenos objectivos realistas alcançáveis a curto e médio prazos, tendo em conta as nossas circunstâncias do momento, é uma das chaves para manter os níveis de bem-estar e prevenir alguma frustração.
Ser optimista a procurar a felicidade implica assim a capacidade de olhar a realidade e acreditar na nossa capacidade de agir para a melhorar - não será uma panaceia ou uma fórmula milagrosa de estar sempre alegre, mas certamente um modo de ter mais sorrisos nos bons e óptimos momentos, com uma maior capacidade de os apreciar e valorizar, e uma maior serenidade para lidar com situações adversas. O optimismo é assim uma forma de optimizar a nossa visão da realidade, procurando potencialidades e recursos.
Catarina Rivero, Psicóloga Clínica pela Faculdade de Psicologia e Ciências de Educação da Universidade de Lisboa.
Partilho o texto da Catarina Rivero.
ResponderEliminarPara mim, este, é uma verdadeira fonte de inspiração.
Fazendo a analogia ao ditado popular "Ver luz ao fundo do túnel", para mim é importante acreditar que no fim do túnel existe um espelho. É preciso caminhar, nos estreitos ou largos corredores do túnel, até chegar ao espelho, local onde me reflicto, me encontro e carrego baterias para enfrentar o novo desafio.