Santa Casa da Misericórdia já autonomizou cerca de 40 famílias durante dois anos de trabalho no terreno
Isaltina Santos tem 18 anos e é um bom exemplo de reinserção social no concelho de Vinhais. Desde que a sua família, que vive num acampamento em Penhas Juntas, é acompanhada no âmbito do Protocolo do Rendimento Social de Inserção (RSI), um projecto conjunto entre a Santa Casa da Misericórdia de Vinhais (SCMV) e o Instituto da Segurança Social, a jovem regressou aos bancos da escola para fazer o 9º ano e quer tirar um curso profissional de cabeleireira.
Isaltina tinha abandonado a escola depois de completar o 4º ano e não tinha objectivos de vida. Hoje vê a escola como uma oportunidade para ganhar a sua independência ao enveredar por uma carreira profissional.
“Eu quero ser diferente da minha família. Ter um curso, ter um trabalho e não estar sempre ao pé dos meus pais”, afirma Isaltina Santos.
Patrícia Martins, técnica superior de Psicologia integrada no Protocolo do RSI, realça a importância de dar apoio aos beneficiários do RSI para contribuir para a melhoria da qualidade de vida e autonomia das famílias.
“Quando visitámos o acampamento pela primeira vez aquilo era um caos. Havia roupa espalhada por todo o lado, ferro velho, não havia organização nenhuma. Desde que nós estamos no terreno é muito bom ver que as coisas evoluíram. Antes moravam em roulottes e agora alguns dos beneficiários estão a construir casas em blocos”, enaltece Patrícia Martins.
Segundo a psicóloga, a motivação e o apoio dado às famílias carenciadas são fundamentais para alcançar o sucesso. “Tentamos dar-lhes competência para eles desenvolverem certas expectativas. A Isaltina, por exemplo, quando a conhecemos queria ser como a mãe e agora vemos que quis estudar e tem um pensamento diferente de muitos beneficiários de etnia cigana”, realça a responsável.
Beneficiários do RSI recebem apoio para ganharem autonomia e qualidade de vida
Já Ana Maria dos Santos, mãe de Isaltina, foi à escola pela primeira vez. “Não sabia ler, nem escrever. Está a ser uma boa experiência e gosto de andar na escola”, afirma a habitante de Penhas Juntas.
No terreno há cerca de dois anos, a equipa do protocolo do RSI orgulha-se de já ter contribuído para a autonomização de cerca de 40 famílias no concelho de Vinhais.
Actualmente, estão a ser acompanhados cerca de uma centena de beneficiários do RSI. “Alguns estão a ser inseridos e vão diminuir, mas, por outro lado, há cada vez mais gente a solicitar esta ajuda”, constata Patrícia Martins.
Entre as acções que esta equipa multidisciplinar desenvolve no seio da comunidade, destaque para o apoio ao nível da organização doméstica, nomeadamente ao nível da higiene das habitações, arrumação da roupa ou gestão financeira.
“Vamos ao terreno, vemos quais os défices dessa família e em função desse diagnóstico social elaboramos o programa de inserção, em que negociamos com a família as formas de solucionar os problemas”, explica a psicóloga.
O desemprego é outro dos problemas que afecta os beneficiários do RSI. Patrícia Martins afirma que este projecto trabalha em rede com outros parceiros, para que seja possível ajudar estas pessoas a encontrar emprego. “Temos os contratos de Inserção+, em parceria com a autarquia e o IEFP, em que as pessoas são automaticamente inseridas. No caso de recusarem perdem a prestação mensal”, salienta a técnica do Protocolo.
A Educação é outra das áreas trabalhadas por esta equipa, que procura motivar as famílias a darem valor aos estudos para conseguirem um futuro melhor. “Acho importante que a minha filha tenha voltado a estudar”, reconhece Ana Maria dos Santos.
O balanço destes dois anos de trabalho é considerado positivo pelo provedor da SCMV, António Rodrigues, que realça que “não se deve dar só o peixe, mas dar também a cana e ensinar a pescar”.
Já a psicóloga realça a importância de continuar com este projecto. “Não é de um dia para o outro que conseguimos mudar estas famílias. Eles aprendem connosco e nós aprendemos com eles”, remata Patrícia Martins.
Artesanato em exposição
Cestaria, meias de lã e croché foram algumas das peças elaboradas por um grupo de etnia cigana acompanhado pelo protocolo do RSI e suscitaram a curiosidade de muitas pessoas que passaram pela Feira de Artesanato de Vinhais, integrada na Feira do Fumeiro.
“Aproveitámos esta iniciativa para mostrar que estas pessoas sabem realizar trabalho como qualquer um de nós. É esta a nossa luta pela inclusão social, visto que ainda há discriminação”, salienta Patrícia Martins.
Esta foi a primeira vez que a equipa do protocolo do RSI participou no certame, para dar a conhecer este projecto às pessoas, principalmente àquelas que precisam de apoio e não sabem a quem pedir ajuda.
Fonte:
http://www.cnrsi.pt/tpl_intro_destaque_iies.asp?854